O sistema arbóreo e o gerativismo


GERATIVISMO

A linguística gerativa – ou gerativismo, ou ainda gramática gerativa – é uma corrente de estudos da ciência da linguagem que teve início nos Estados Unidos, no final da década de 50, a partir dos trabalhos do linguista Noam Chomsky, professor do Instituto de Tecnologia de Massachussets, o MIT. Considera-se o ano de 1957 a data do nascimento da linguística gerativa, ano em que Chomsky publicou seu primeiro livro, Estruturas sintáticas.Trata-se, portanto, de uma linha de pesquisa linguística que já possui 50 anos de plena atividade e produtividade. Ao longo desse meio século, o gerativismo passou por diversas modificações e reformulações, que refletem a preocupação dos pesquisadores dessa corrente em elaborar um modelo teórico formal, inspirado na matemática, capaz de descrever e explicar abstratamente o que é e como funciona a linguagem humana.

A linguística gerativa foi inicialmente formulada como uma espécie de resposta e rejeição ao modelo behaviorista de descrição dos fatos da linguagem, modelo esse que foi dominante na linguística e nas ciências de uma maneira geral durante toda a primeira metade do século XX. Para os behavioristas, dentre os quais se destacava o linguista norte-americano Leonard Bloomfield, a linguagem humana era interpretada como um condicionamento social, uma resposta que o organismo humano produzia mediante os estímulos que recebia da interação social.Essa resposta, a partir da repetição constante e mecânica, seria convertida em hábitos, que caracterizariam o comportamento linguístico de um falante. Chomsky chamou a atenção para o fato de um indivíduo humano sempre agir criativamente no uso da linguagem, isto é, a todo momento, os seres humanos estão construindo frases novas e inéditas, ou seja, jamais ditas antes pelo próprio falante que as produziu ou por qualquer outro indivíduo.
Por isso, todos os falantes são criativos, desde os analfabetos até os autores dos clássicos da literatura, já que todos criam infinitamente frases novas, das mais simples e despretensiosas às mais elaboradas e eruditas. Pensemos, por exemplo, na frase que acabamos de produzir aqui mesmo neste texto. É muito provável que ela nunca tenha sido proferida exatamente da maneira como o fizemos, bem como jamais será dita novamente da mesma forma. Chomsky chegou a afirmar, inclusive, que a criatividade é o principal aspecto caracterizador do comportamento linguístico humano, aquilo que mais fundamentalmente distingue a linguagem humana dos sistemas de comunicação animal.
De acordo com esse pensamento de Chomsky, se considerarmos a criatividade como a principal característica da linguagem humana, então devemos abandonar o modelo teórico e metodológico do behaviorismo, já que nele não há espaço para eventos criativos, pois, para linguistas como Bloomfield, o comportamento linguístico de um indivíduo deve ser interpretado como uma resposta completamente previsível a partir dum dado estímulo, tal como é possível prever que um cão começará a latir ao ouvir, por exemplo, o som de uma campainha, caso tenha sido treinado para isso.Se o behaviorismo deve ser abandonado, como de fato foi, após a publicação da resenha de Chomsky, o gerativismo se apresenta como um modelo capaz de superá-lo e substituí-lo. O papel do gerativismo, no seio da linguística, é constituir um modelo teórico capaz de descrever e explicar a natureza e o funcionamento dessa Faculdade, o que significa procurar compreender um dos aspectos mais importantes da mente humana, como afirmou o próprio Chomsky.

Com o gerativismo, as línguas deixam de ser interpretadas como um comportamento socialmente condicionado e passam a ser analisadas como uma faculdade mental natural. A morada da linguagem passa a ser a mente humana.Para procurar responder perguntas como essas, a linguística gerativa propõe-se a analisar a linguagem humana de uma forma matemática e abstrata (formal), que se afasta bastante do trabalho empírico da gramática tradicional, da lingüística estrutural e da sociolingüística, e se aproxima da linha interdisciplinar de estudos da mente humana conhecida como Ciências Cognitivas. A maneira pela qual tais perguntas vêm sendo respondidas constitui o modelo teórico do gerativismo.
A GRAMÁTICA COMO SISTEMA DE REGRAS A primeira elaboração do modelo gerativista ficou conhecida como Gramática Transformacional e foi desenvolvida e reformulada diversas vezes durante as década de 60 e 70.Os objetivos dessa fase do gerativismo consistiam em descrever como os constituintes das sentenças eram formados e como tais constituintes transformavam-se em outros, por meio da aplicação de regras, Por exemplo, a sentença “o estudante leu o livro” possui cinco itens lexicais, que estão organizados entre si através de relações estruturais que chamamos de marcadores sintagmáticos, e tais marcadores poderiam sofrer regras de transformação de modo a formar outras sentenças, como “o livro foi lido pelo estudante”, “o que o estudante leu?”, “quem leu o livro?” etc.
Vejamos um exemplo. A sentença (S) “o aluno leu o livro” é formada pela relação estrutural entre o sintagma nominal (SN) “o aluno” e o sintagma verbal (SV) “leu o livro”.
O SN é formado pelo determinante (DET) “o” e pelo nome (N) “aluno”, e o SV, por sua vez, é formado pelo verbo (V) “leu” e pelo outro SN “o livro”, o qual se forma também por uma relação entre DET e N, no caso “o” e “livro” respectivamente.
Toda essa estrutura sintagmática pode ser mais claramente visualizada no esquema abaixo, denominado diagrama arbóreo (ou, simplesmente, árvore), que é a famosa maneira pela qual os gerativistas representam estruturas sintáticas.
Com a evolução da linguística gerativa, no início dos anos 80 a ideia da competência linguística como um sistema de regras específicas cedeu lugar à hipótese da Gramática Universal (GU). Deve-se entender por GU o conjunto das propriedades gramaticais comuns compartilhadas por todas as línguas naturais, bem como as diferenças entre elas que são previsíveis segundo o leque de opções disponíveis na própria GU.

A hipótese da GU representa um refinamento da noção de Faculdade da Linguagem, sustentada pelo gerativismo desde o seu início: a Faculdade da Linguagem é o dispositivo inato presente em todos os seres humanos, como herança biológica, que nos fornece um algoritmo, isto é, um sistema gerativo, um conjunto de instruções passo-a- passo, como as inscritas num programa de computador, o qual nos torna aptos para desenvolver (ou adquirir) a gramática de uma língua.

DIAGRAMA ARBÓREO

Os diagramas surgiram na década de sessenta, e ao longo do tempo, estudiosos o vem aperfeiçoando. Utilizamos os Diagramas Arbóreos nos processos de analises sintáticas numa frase ou oração; para facilitar a compreensão dos fenômenos da língua e sua fonética tanto quanto a sua estrutura numa forma visual e detalhista. Sendo assim a leitura de uma oração ou frase tem uma maior compreensão e desenvolvimento. A construção desse tipo de estrutura parece como ramificações, de uma forma organizada e conjunta. Buscando assim maior nível de identificação dos pronomes, substantivos, verbos, artigos, preposição, adjetivos e outros . Essa estrutura lembra também uma arvore, ou suas raízes. Então surge o nome (árvore arbórea).
"DIAGRAMA ÁRBOREO" de Chomsky, sua estrutura interna com foco no sintagma nominal (SN).
O diagrama arbóreo
Uma oração é sempre constituída por unidades menores significativas. O sintagma, segundo Silva e Koch (2001), é o conjunto de elementos que constituem uma unidade significativa e que mantêm entre si relações de dependência e de ordem. Organizam-se em torno de um elemento fundamental, o núcleo, que pode por si só constituir o sintagma. Os tipos de sintagma dependem do núcleo que o constituem:
* Sintagma nominal (SN): quando o núcleo do sintagma é um nome;
*Sintagma adjetival (SA): quando o núcleo do sintagma é um adjetivo;
* Sintagma verbal (SV): quando o núcleo do sintagma é um verbo;
* Sintagma preposicional (SP): quando o núcleo do sintagma é uma preposição.

Sintagma Nominal
Segundo Inez Sautchuk (2004) apresenta o sintagma nominal (SN), como uma unidade significativa da oração que terá sempre como núcleo uma palavra de natureza (ou base) morfológica substantiva, que é representado como um nome (N) ou até mesmo um pronome (pro), além de poder vir circundado por Determinante (Det) e/ou Modificador nominais (MOD).
O Determinante (Det) pode ser simples ou complexo: simples, porque apresenta um elemento representado pelo artigo, numeral ou pronome adjetivo; complexo, por ser constituído por mais de um elemento. Neste caso, funcionam como determinante-base o artigo e o pronome demonstrativo; como pós-determinante, os numerais e os possessivos; e, como pré-determinante, certas expressões indefinidas (todos, a maior parte de). Todos esses elementos obedecem a uma ordem de colocação.
Os modificadores do núcleo substantivo de um sintagma nominal podem ser eles mesmos, um Sintagma adjetival (SA) ou um Sintagma preposicionado (SP).

Abaixo, uma oração representada por meio do diagrama arbóreo onde o SN é modificado pelo SA.

O SN como já mencionado, pode ser modificado por ele mesmo, pelo SA (exemplo I) ou pelo SP. Além disso ele também pode ser apresentado como um sujeito oculto, ou seja, morfema zero(Ø)
Observe:

Nestes casos é o SN é representado com o morfema zero. Podemos observar também na oração acima, que o SN ele pode entrar dentro do SV (Sintagma Verbal) e além disso, também é encontrado dentro modificador SP (Sintagma Preposicionado), nomeando após a preposição (que será apresentado nas próximas postagens).


Referências bibliográficas:
arvore%2Blily%2B1
arvore%2Blily%2B2
Sautchuk, Inez. Prática de Morfossintaxe - 2ª Ed. 2010
SILVA, M. Cecília P. de Souza e; KOCH, Ingedore Villaça. Linguística Aplicada ao Português: Sintaxe. 9ª ed. São Paulo: Cortez Editora, 2000.
Acessado em: 10/2017

Produzido por: Sara Severo
Revisado e editado por: Ádyla Maciel

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